BOWING (Espectáculo)Voltar

Chegámos ao Oriente Alentejano. Estas palavras são o tapete de entrada para vislumbres da Índia, Nepal, Bangladesh e outras culturas asiáticas que habitam as ruas de São Teotónio. BOWING é um presente em forma de espectáculo, que se oferece para praticar uma economia em que se acredita, recebendo o público através da dança, da música, da palavra e da imagem. Aqui mapeamos a travessia pelos continentes da Hospitalidade, da Gravidade e da Incompreensão, percorridos pelos nossos passos, onde tentamos um verdadeiro encontro entre povos. Bem-vindos ao Oriente que respira por estas ruas.

Espectáculo BOWING, na vila de São Teotónio 12, 13 e 14 de Novembro de 2021

MEDITATION CENTRE

Meet, um rapaz indiano de 15 anos que vive com a sua irmã Maitri e os seus pais no Almograve, ambos de Gujrat, explica que há três ingredientes essenciais para a meditação: foco, paz e prática. Deixamos que estas instruções ocupem os corpos numa meditação conjunta que é marcada pelas sete baladas do sino da igreja de São Teotónio. Os gestos invocam mudras indianos, rezas portuguesas e todos os símbolos misteriosos entre os dois, que tanto nos afastam como aproximam. Ressoando as palavras do filósofo João Maria André, que pairam também por esta vila, pedimos aos deuses que corra bem o encontro, onde “todos somos estrangeiros, símbolos uns dos outros, de todos e de ninguém”.

CURRY KINGDOM

Mandeep é uma mulher da religião Sikh, que partiu do Punjab e chegou a Boavista dos Pinheiros. Sathyia, do Sul da Índia, vive com a filha e com o marido em Odemira e cozinha pratos da sua região todas as quartas-feiras, em São Luís do Alentejo. Sathiya e Mandeep oferecem as suas culturas através da comida, neste Curry Kingdom que é um parque de estacionamento convertido em banquete, onde se abrem passagens através de muros que dançam para um lugar de sabores.

CONFRONTATION BALCONY

Rajendra veio do Nepal. Recebe o público a partir de uma varanda de uma grande casa de São Teotónio, acompanhado por um grupo de jovens asiáticos. Com o seu magnetismo, capta os olhares fascinados de todos. Em Hindi, oferece a voz ao que tantos dos 13 mil migrantes desta região vivem diariamente, reclamando o direito a outras formas de convivência.”Venham, aproximem-se.Oiçam,Tenho coisas importantes para vos dizer.Esta é a nova história.Atithi Devo Bhava.”

HOSPITALITY SQUARE

Laxmi, uma rapariga nepalesa de Uralabari, aluna em Odemira, escreveu num poema que “todos vivemos debaixo do mesmo céu”. Unindo as suas palavras às do irlandês Richard Kearney, filósofo da Hospitalidade, desenhamos uma grande flor no chão de uma praça, entre a bússola ocidental e a mandala oriental, que nos dará instruções para atravessar o estrangeiro: lugar de deuses, monstros e estranhos que também nos habitam.Um trio de mulheres percorre o chão pintado com giz desatando uma dança entre a palavra e a acção.

FAMILY VICTORIES

Uma colecção de retratos das novas famílias alentejanas, que nos recebem nos campos em frente às suas casas, reescrevendo a história destas planícies, destes sobreiros e montes. Muitos dos que chegam do Oriente vêm sozinhos, mas as famílias que aqui vemos conseguiram manter-se juntas na sua travessia pelo mundo. Todos partem por uma razão e todos chegam com um objectivo, um desejo de futuro.

GATE

É uma porta de entrada em forma de dança. Um solo atravessado pelo Oriente e Ocidente no corpo de uma bailarina, nascido no topo de um altar que outrora foi o poço onde nascia a água da aldeia. O som anuncia a passagem líquida para outro espaço, o Jardim da Elsa, uma menina de São Teotónio que fugiu da vida e deixou uma floresta com o seu nome, à qual também quisemos chamar Floresta da Incompreensão.

FOREST

Mestres que são crianças vão trazer aos ouvidos e às mãos do público palavras nas línguas indecifráveis dos seus países. Através do cinema, estes territórios longínquos são projectados nas mesas de merendas para que se visitem as paisagens e atmosferas das cidades do Oriente. Quando as imagens entram na pele de três bailarinas que sobem às mesas como se fossem palcos, surgem assim corpos vivos da dança que nos oferecem a beleza da incompreensão. Na floresta há cruzamentos sombrios e desconhecidos, clareiras abertas pela música e espaços femininos de penumbra com danças que se enrolam pelos pinheiros-bravos como jibóias. A Ásia instala-se em paredes de taipa que formam o nosso novo templo com o seu ritual de turbantes, rodeado por imagens de sonho projectadas nos vestidos de princesas sem nome.

LAST STOP

No terreiro de São Teotónio, onde os animais são mostrados para serem vendidos, entramos na parte final do BOWING, uma zona de gravidade e aceleração. Partindo de um excerto de uma dança de Hofesh Shechter, “Political Mother” chamamos para os nossos corpos os movimentos do trabalho, do jogo, do cansaço imenso e das deslocações que inscrevem esta vila no mapa das grandes mudanças globais. São Teotónio é parte do mundo e transforma-se com ele. As migrações, as estufas, os estranhos. O trabalho que mata, o trabalho que salva, a alegria, o desespero, as brincadeiras de crianças, as danças magnéticas entre homens e mulheres presentes em todo o mundo, em todos os corpos.

AGRADECIMENTOS

Agradecimento muito especial a todos os artistas, escritores e filósofos que nos acompanharam neste BOWING e que nos alimentaram com a sua arte, o seu pensamento.Obrigado a Richard Kearney, filósofo irlandês, Nainsukh, pintor indiano, Jacques Derrida, filósofo francês, João Maria André, filósofo português, Alexandra Lucas Coelho, escritora e jornalista portuguesa, Viasa, autor indiano, Hofesh Shechter, coreógrafo israelita, Manaku de Guler, pintor indiano, Bill Viola, videoartista norte-americano, Juan Vicente Piqueras, poeta espanhol, Amit Dutta, videasta indiano, Henri Cartier-Bresson, cineasta francês, Kae Tempest, poeta inglesx, Simone Weill, filósofa francesa, Rabindranath Tagore, poeta indiano, Steve Paxton, coreógrafo norte-americano e Satyajit Ray, realizador indiano.

FICHA ARTISTICA

MADALENA VICTORINO E ANDRÉ DUARTE Criação AAYUSH KC, ABDUL HOQE, ABHIJOT SINGH, ABHINANDAN DAHAL, ADRIANA MATOS, AMRITA BUDHA, APEKSHYA LOHANI, ARSHPREET KAUR, BELOV THAPA, BIPASHA ISLAM, DANIEL WANG, GROUKAL KUMAR, GURSJAS SINGH, GURSANJPREET KAUR, HARMANDEEP SINGH, ISABELA ALEIXO, IVAN LOHANI, JAGJEET SINGH, JASMEEN KAUR, KULWINDER SINGH, LARA GODINHO, LAXMI KHADKA, MAITRI PATEL, MAMATA BK, MANDEEP KAUR, MEET PATEL, MILAN MAGAR, MUHAMMED ABU BOKOR, NAIMA NABIN, NEDZHLYA GEORGIEVA, NURUL AMIN, ONKAR SINGH, PEDRO SIMÕES, SAIFUR RAHMAN, SAIMA NABIN, SAIMON KANDEL, SATHIYA KRISHNAMURTI, SHAMEM AHMAD, SHAMIN AHMED, SIRAJ UDDIN, SNEHA MALLA, SYED RAHMAN, SUSHANT ADHIKARI, RANI PATHAK, TANCHHOMA LIMBU Co-criação MATILDE REAL Palavra INÊS MELO SOUSA Dança PAVEL TAVARES Vídeo Equipa Nuclear BOWING MARTA COUTINHO Produção executiva e assistência artística NATALIA LIS, THAIS JULIA Dança MARC PLANNELS, MÁRCIO PINTO, PEDRO SALVADOR, PRAMIN GHATANI, RAJENDRA SHIWAKOTI, RÉMI GALLET, VITÓRIA FARIA MÚSICA ELKA VICTORINO Assistencia Coreográfica BÁRBARA SOUSA E FRANCISCA POÇAS, ANDREIA COELHO, CATARINA BERTRAND, JOÃO PARREIRA, MANUEL RUIZ Participação Especial JOAQUIM MADAÍL Desenho de Luz e Direcção Técnica